"Era do talhe de uma águia, mas os seus olhos eram tão suaves e ternos quanto os da águia, são altivos e ameaçadores. Seu bico era cor-de-rosa e parecia ter algo da linda boca de Formosante. Seu pescoço reunia todas as cores do arco-íris, porém mais vivas e brilhantes. Em nuanças infinitas, brilhava-lhe o ouro na plumagem. Seus pés pareciam uma mescla de prata e púrpura; e a cauda dos belos pássaros que atrelaram depois ao carro de Juno não tinham comparação com a sua."
- Voltaire -
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Sou a encantadora “Fênix” tenho um bico extraordinariamente longo e muito duro, perfurado com uma centena de orifícios, como uma flauta. Vivo isolada e meu reinado é absoluto. Cada abertura em meu bico produz um som diferente, e cada um desses sons revela um segredo particular, sutil e profundo.
Quando me faço ouvir... essas notas plangentes... os pássaros e os peixes agitam-se, as bestas mais ferozes entram em êxtase; depois todos silenciam. Foi desse canto que um sábio aprendeu a ciência da música.
Vivo cerca de mil anos e conheço de antemão a hora de minha morte. Quando sinto aproximar-se o momento de retirar o meu coração do mundo, e todos os indícios me confirmam que devo partir, construo eu mesma minha pira, reunindo ao redor de mim lenha e folhas de palmeira.
Em meio a essas folhas entôo tristes melodias, e cada nota lamentosa que emito é uma evidência de sua alma imaculada. Enquanto canto, a amarga dor da morte penetra meu íntimo, minhas forças se esvaem e tremo como uma folha ao vento. Todos os pássaros e animais são atraídos por meu canto, que soa agora como as trombetas do Último Dia; todos aproximam-se para assistir o espetáculo de minha morte, e, por meu exemplo, cada um deles determina-se a deixar o mundo para trás e resigna-se a morrer.
É um dia extraordinário: alguns soluçam em simpatia, outros perdem os sentidos, outros ainda morrem ao ouvir meu lamento apaixonado... meu coração destruído... a morte da esperança!
Quando me resta apenas um sopro de vida, bato minhas asas e agita minhas plumas, e deste movimento produz-se um fogo que transforma meu estado.
Este fogo espalha-se rapidamente para folhagens e madeira, que ardem agradavelmente. Breve, madeira e “Fênix” tornam-se brasas vivas, e então cinzas. Porém, quando a pira foi consumida e a última centelha se extingue, uma pequena “Fênix” desperta do leito de cinzas!
Minha vida longa e meu dramático renascimento de minhas próprias cinzas transformaram-me em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual... e assim o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca têm fim!!!
Da mesma forma que o Sol, que morre todos os dias no horizonte para renascer no dia seguinte, tornando-se o eterno símbolo da morte e do renascimento da natureza.
Esta sou eu...
- A Fênix -